Revista FONAMEC
- Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 111 - 131, maio 2017
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instaura-se um período de efervescência – denominado por Morin de “ci-
ência extraordinária” – que costuma conduzir a um desvio na ortodoxia,
a uma ruptura nas visões de mundo e a uma dissidência ao imprinting
(Lorenz) até que um novo paradigma se defina
7
.
Não se imagina que a superação paradigmática ocorra de modo li-
near e simétrico em todos os setores e em todas ciências, caracterizando
uma verdadeira revolução que atinja simultaneamente todos os standar-
ds existentes. Não costuma ser assim.
Na verdade, o caminho costuma ser mais darwiniano. É da essência
mesma das ciências o confronto permanente de ideias, o que permite um
processo de evolução constante de princípios, conceitos e teses. Por isso
mesmo, Popper – a quem Kuhn se opõe nesse ponto – sustenta que o que
ocorre é um caminho mais evolucionário, em que a superação teórica se
dá pela seleção, refutação e eliminação do conjunto de conhecimentos
que se mostra obsoleto.
Parece que os métodos não se opõem, mas se combinam e se suce-
dem. De fato, pode ocorrer de se alcançar um ponto tal de contestações
de um padrão científico que um novo paradigma surja e torne superados
todos os conceitos subordinados do paradigma anterior. Nesses casos,
todo o modo de pensar e ver o mundo igualmente se modifica, e passa a
ser orientado pela nova teoria.
De qualquer modo, o importante é que nos momentos de investi-
gação que podem resultar numa evolução, ou no período de crise extra-
ordinária entre a constatação da obsolescência do antigo e o surgimento
do novo, a ciência mantém-se viva e ativa, sendo continuamente “impe-
lida e agitada por forças antitéticas que, na realidade, vitalizam-na”, num
recorrente processo autoprodutor entre a objetividade dos cientistas, a
comunidade e a tradição crítica (Morin).
Atualmente, entre a sucessão entre fases evolucionárias e rupturas
paradigmáticas, encontramo-nos em período de crise em diversos setores
do conhecimento. A partir do início do século passado, em várias áreas, a
evolução científica ocorreu com rapidez inédita na história, promovendo
transformações substanciais na política e na economia, nas artes e na cul-
tura, com ampla repercussão nas demais ciências, em especial no direito.
A constatação dessa nova etapa advém do reconhecimento da in-
suficiência de institutos tradicionais em dar respostas adequadas aos an-
7 Morin, Edgar.
Op. Cit.
, p. 53.