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Revista FONAMEC

- Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 303 - 320, maio 2017

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somente na qualidade de inventariante. A audiência fora adiada porque a

reclamante havia juntado mais uma carteira de trabalho, oportunizando-

-se vista à parte contrária.

E qual seria a razão para a permanência da outra filha no pólo pas-

sivo? - nem a inicial, nem a emenda traziam a causa de pedir com clareza.

Avisam-me em seguida que a testemunha do espólio, apesar de es-

tar com dengue, tinha vindo.

A reclamante também disse estar com dengue e, mesmo assim, veio.

O

imbroglio

era total.

Mais: uma das advogadas do espólio, defesa (ainda não recebida)

e documentos em punho, bradava sua indignação:

a reclamante requer o

pagamento de 454 mil reais, morou na casa com quatro parentes dela, de

graça, por todo esse tempo, depois da morte do pai e da mãe!

Depois da morte da mãe? - pensei. Nem a inicial, nem a emenda

mencionavam esse fato.

Pedi aos advogados um pouco de paciência, pois queria ouvir as

partes. Começou a filha-ré – um pouco contrariando o seu advogado: -

olha, doutora, eu nem sei porque estou aqui. Eu tomo remédio controlado,

ele (apontando para o irmão) me bateu toda, tive que parar no dentista

(passando o dedo na parte frontal dos dentes), e contratei ela (reclaman-

te) para trabalhar para mim depois que minha mãe faleceu, porque ela

não tinha do que viver. Quero resolver isso hoje mesmo, doutora.

Assentiu a reclamante com a cabeça: -

doutora, eu não queria vir

aqui, queria resolver isso tudo com eles, mas o tempo foi passando, pas-

sando... Morei lá, porque o senhor e a senhora me convidaram. Ela era

uma santa. Os filhos não iam visitar, então ela convidou minha sobrinha

para morar lá. Ela, a filha, apanhou por minha causa, doutora. Ele chegou

lá um dia, disse que era para eu ir embora. Como é que eu ia, sem receber

meus direitos? Esperei a irmã dele chegar, ela mandou eu vir aqui buscar

meus direitos, ele também mandou, mas bateu forte nela... Trabalhei lá

por 20 anos e não recolheram meu INPS. Essa moça aqui, oh (apontando

para a advogada do espólio) é mulher dele ali, oh (apontando para o in-

ventariante) e gritou comigo dizendo que, se eu não saísse da casa, ela iria

me pegar na primeira esquina!

O advogado da autora: -

acabei de tomar conhecimento desses fa-

tos, doutora.