Background Image
Previous Page  231 / 422 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 231 / 422 Next Page
Page Background

Revista FONAMEC

- Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 225 - 252, maio 2017

231

Merece lume, também, o ponto no qual Fiss discorre criticamen-

te acerca da

voz autorizativa

do acordo. Com efeito, frequentemente há

uma colisão de interesses entre a parte e seu representante, de manei-

ra que este pode fazer prevalecer os seus em detrimento dos daquela.

Assim, advogados/negociadores podem celebrar acordos que lhes são

vantajosos, não obstante perniciosos ao seu cliente, o qual, desprovido de

conhecimentos jurídicos, não deteria aptidão para valorar a conduta ado-

tada em seu desfavor. Da mesma forma, em organizações, “the chief ex-

ecutive officer may settle a suit to prevent embarassing disclosures about

his managerial policies, but such disclosures might well be in the interest

of the shareholders”.

10

No que aduz com a recorrente afirmação

11

no sentido de que a jus-

tiça informal é incentivada em virtude de sua aptidão para promover o

escopo pacificador

da jurisdição, Fiss faz a seguinte objeção: a finalidade

da jurisdição não seria a otimização de fins privados, ou simplesmente

assegurar a paz, senão efetivar valores encampados pelo ordenamento

jurídico. Ou melhor, o seu objetivo maior seria a aplicação desses valores

e a conformação da realidade em relação a eles. Em suas palavras:

Civil litigation is an institutional arrangement for using state

power to bring a recalcitrant reality closer to our chosen ide-

als. (...) Although the parties are prepared to live under the

terms bargained for, and although such peaceful coexistence

may be a necessary precondition of justice, and itself a state

of affairs to be valued, it is not justice itself.

12

Exatos vinte e cinco anos após a publicação de

Against Settlement

,

e à vista da repercussão e das críticas que lhe foram dirigidas, o autor rati-

ficou seu posicionamento em

The History of an Idea

. Nessa oportunidade,

10 Ibidem.

11 “Os meios alternativos não são ligados ao escopo jurídico de atuar a lei (e na prática só ocasionalmente con-

duzem a isso), mas buscam a pacificação das pessoas e a eliminação de conflitos, o que constitui o escopo magno

do próprio sistema de tutela jurisdicional” (DINAMARCO, Cândido Rangel. Tutela jurisdicional. In:

Fundamentos do

Processo Civil Moderno.

6ª ed. São Paulo: Malheiros, 2010, V. 1, p. 392); Igualmente: “Se é certo que tais técnicas

não se valem, necessariamente, da atuação do Estado-juiz, é correto o entendimento que cada um deles representa,

em um contexto mais amplo, um método de atingir uma das finalidades mais caras ao direito processual civil - e do

próprios Estado - que é a pacificação social”. (BUENO, Cássio Scarpinella.

Curso Sistematizado de Direito Processual

Civil. Teoria Geral do direito processual civil

. 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 48).

12 Ibidem, p. 1089.