Revista FONAMEC
- Rio de Janeiro, v.1, n. 1, p. 384 - 406, maio 2017
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ções de perigo, seja porque sabembem investigar, seja porque sabem como
agir quando solicitados, saberes que, enfim, escapam do homem comum.
Estabelece-se, assim, ainda de acordo com Anthony Giddens, uma
espécie de “
compromisso sem rosto
”
19
, no qual um homem é “obriga-
do” a confiar no outro sem sequer o conhecer ou jamais tê-lo visto, cuja
renovação, que cotidianamente se impõe, dar-se-ia, não somente, pela
capacidade estatal em separar as atuações de “palco” e de “bastidores”,
“
como meio de reduzir o impacto das habilidades imperfeitas e das falibili-
dades humanas
” como acentua Golfman,
20
mas, também e sobretudo, em
função dos resultados alcançados.
Como esses resultados têm sido, pelos mais diversos motivos, bem
aquém do esperado e até mesmo pífios, o Estado tem recorrido, sem-
pre, a ações pontuais e
espetaculares
destinadas a se mostrar tão atento
quanto operante. Essa estratégia, com efeito, embora produza uma certa
crença no potencial protetivo estatal, não evita algumas reações impor-
tantíssimas de uma população intranquila.
A primeira delas se expressa na tentativa de, substituindo-se ao pe-
rito “policial” que perdeu a confiança, tratar, por si ou por outrem, de se
proteger. O exemplo típico dessa manifestação são as milícias populares
havidas em bairros ou espaços periféricos das cidades. Sobre isso, veja-se
interessante matéria jornalística de O Jornal. Ei-la:
Comunidade faz o papel da polícia
Patrulha comunitária enfrenta violência e reduz índice de as-
saltos no Benedito Bentes II
A falta de segurança no Loteamento Bela Vista levou a comu-
nidade local a fazer o trabalho da polícia. Todas as noites, a
partir das 21h, um grupo de 20 homens se reveza em equi-
pes de quatro na ronda pelo loteamento, com abordagem de
suspeitos e escolta de outros moradores que voltam do tra-
balho ou da escola. A Patrulha Comunitária, como está sendo
chamada, tem dado resultado com a diminuição de assaltos
durante a noite.
19 Op. cit., p.84.
20 Apud Anthony Giddens, op. cit., p.90.