Nesta segunda-feira (4), Fórum Permanente de Diálogos da Lei com o Inconsciente da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), realizou o encontro Narciso e os Demais Personagens do Inconsciente.
O evento aconteceu presencialmente no Auditório Desembargador Paulo Roberto Leite Ventura. Houve transmissão via plataforma Zoom, com tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Abertura
A presidente do fórum e doutora em Direito pela Universidade Veiga de Almeida do Rio de Janeiro (UVA), desembargadora Cristina Tereza Gaulia, destacou: “Os fóruns permanentes são na verdade, espaço de reflexão crítica para pensarmos e conhecermos melhor o que está para além do óbvio. É como bem dizia Darcy Ribeiro, a gente às vezes tende desvelar as obviedades do óbvio. O óbvio tá ali, a gente não enxerga, a gente tem de ver por de trás, por baixo e até no meio. Mas por que nós precisamos, conhecer o que é inconsciente? Porque a ação humana é complexa e nem sempre guiada pela razão consciente e o inconsciente é esse reservatório de desejos, impulsos e experiências reprimidas que exercem uma influência poderosa sobre nossas decisões e ações e essa influência está presente quando se elabora as leis e quando as leis são aplicadas. Por isso e para isso temos algumas ferramentas as nossas disposições e uma delas é a psicanálise, por certo, que em seus diversos vieses e linhas nós levam a um mergulho em nós mesmos para aprimorarmos o autoconhecimento que nos permitirá melhor navegar por mares nunca dantes antes navegados.”
Ao fim da abertura, completou: ”Tem um diálogo muito rico entre a psicanalise e os mitos que nós ajudam a explorara a complexidade da psique humana. Os mitos fornecem um rico material simbólico que vai nos a auxiliar na compreensão dos processos inconscientes e das estruturas de funcionamento da nossa mente e dos sentimentos. O dia de hoje será dedicado somente ao narcisismo, esse padrão de comportamento caracterizado por um sentimento de grandiosidade do sujeito narcisista, e sete que tem uma enorme necessidade de admiração, mas carece de empatia. O mundo atual é um reino narcisista, é o reino das selfies, das postagens, das redes sociais, dos emoticons e emojis, um mundo que incentiva comportamentos narcísicos a toda, em todo tempo e em todo lugar. Finalmente, podemos ser todas celebridades criadas por nós mesmo.”
Palestrantes
O membro do fórum, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Ciências da Comunicação pela USP, Eugenio Bucci, ressaltou: ”Eu creio que a construção imaginaria do eu é fundamental para entendermos o narcisismo e ai eu vou chegar a uma proposição da desembargadora Cristina Gaulia que é o mundo narcisista, ou seja , nós temos que entender que nós não estamos qualificando sujeitos a granel, mas o problema que nos leva a querer discutir esse tipo de assunto é que isso é um estado da cultura ou do mundo. Nós vimemos em uma cultura narcisista.”
E concluiu:“No caso da comunicação publica nós temos uma distorção de todo tamanho. Se essa vaidade doentia é autorizada pela cultura os aparatos de comunicação publica são postos a serviço dessa vaidade particular. O público é posto a serviço do particular, não é um particular qualquer é um particular como marcação de uma subjetividade desequilibrada pelo narcisismo, ou no narcisismo. Uma cultura narcísica , como a que a gente tá, é uma cultura avessa ao argumento e isso é muito preocupante quando a gente vê o que está em jogo.”
A professora adjunta da Uerj e doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP, Maria Luisa Furlin Bampi, pontuou: “A gente precisa pensar as atuais formas de subjetivação da infância, que muitas vezes envolvem a nomeação precoce de traços e personalidades de síndromes clínicas, o que leva a proliferação de diagnósticos como síndrome da criança narcisista para a gente pensar isso. Essa rotulação reflete menos um transtorno consolidado, mas algo que vai dar sentido mesmo de controlar modos de existência infantil que desafiam expectativas normativas de comportamento, autonomia e afeto.”
O membro do fórum e doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) Roger Raupp Rios, reforçou: “Narciso vai vivendo e uma Ninfa se apaixona por ele, Ecos que por ter sido fofoqueira de puladas de cerca dos deuses é condenada, pelos deuses, a não mais poder falar. O interessante é ver essas duas figuras Narciso e a Ecos, o Narciso é o sujeito que não reconhece o outro, só reconhece a si mesmo e ecos é o sujeito que não é reconhecida pelo outro e que não se reconhece, porque só repete os outro. Vejam que é uma grande narrativa da incomunicação que é uma característica da sociedade atual a exponencia, a falta de comunicação. Temos tanta tecnologia e tão pouca comunicação.”
Debatedores
O vice-presidente do fórum e doutor em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Humberto Dalla Bernardina de Pinho, salientou:”É como se o narcisismo deixasse uma marca indelével, é uma tatuagem, algo que não sai, algo que a partir daquela marca vai modificar completamente todo o padrão daquele agente pública.”
A membra do fórum e a doutora em Direito pela doutora em Direito pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), Solange Ferreira de Moura, destacou: “Cada vez mais cedo as crianças tem acesso as redes sociais, isso é uma questão seria para os pais e educadores, porque antes dessa personalidade está bem constituída, ela já entre nesse turbilhão, nesse vórtex que muito vai alterando o seu processo de formação e constituição.”
A membra do fórum, psicóloga clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RS) e membra da Escola Brasileira de Psicanálise, Sarita Olga Gelbert, concluiu: ”Eu acho muito interessante a psicanálise e o Direito conversarem porque ambos trabalham com a lei. A psicanalise trabalha com a lei do desejo, mas é lei. Existe uma ideia antiga de que a psicanálise liberava tudo e não é assim. A psicanálise não autoriza o gozo da forma se pensava, a psicanálise trabalha na lei desejo e lei do desejo não é lei do gozo, porque o gozo é capricho, desejo é parcial, é dividido, é o possível.”
Assista
Para assistir na íntegra, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=lNeQ8zAxZ-c
Fotos: Jenifer Santos
4 de agosto de 2025
Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)