Nesta quarta-feira (11), a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), por meio do Fórum Permanente da Criança, do Adolescente e da Justiça Terapêutica, promoveu o evento “A criança e o adolescente nos esportes de alto rendimento”.
O evento aconteceu presencialmente no Auditório Desembargador Paulo Roberto Leite Ventura. Houve transmissão via plataforma Zoom com tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Abertura
O presidente do Fórum Permanente da Criança, do Adolescente e da Justiça Terapêutica, juiz Sérgio Luiz Ribeiro de Souza, destacou: “É uma alegria estarmos aqui em mais este evento, tratando de um tema palpitante e muito atual: ‘A criança e o adolescente nos esportes de alto rendimento’. A ideia desse encontro surgiu de uma conversa no Fluminense Football Club, na qual discutimos exatamente essa cobrança sobre os meninos e meninas que praticam esses esportes, como as famílias lidam com essas questões e como eles recebem esse tipo de pressão. Por isso, estamos aqui hoje tratando desse assunto e, como em todos os nossos eventos, trouxemos palestrantes que realmente trabalham com isso na linha de frente.”
Palestrantes
O vice-presidente de Interesses Legais do Fluminense Football Club, Heraldo Assed Iunes Filho, pontuou: “Quando recebemos o convite para o evento, eu e a doutora Emily Gonçalves conversávamos e ela me disse: ‘Vai chegar o dia em que nós vamos sentar para realizar uma palestra e, ao invés de abordarmos a criança e o adolescente nos esportes de alto rendimento, teremos que tratar do pré-feto ou do feto nos esportes de alto rendimento, porque, cada vez mais, a idade de início está diminuindo nessa trajetória do atleta profissional. É claro que podemos falar sobre todas as atividades esportivas, mas estamos aqui com Gabriel de Paula Gorgulho Moraes, que chegou aos 12 anos ao Fluminense. Ele vem de São José dos Campos, com um sonho trazido pela sua família. Hoje, com 17 anos, chegou como uma criança cheia de sonhos e, hoje, é um adolescente, um profissional do futebol com uma carreira altamente promissora e convocado para a Seleção Brasileira, zagueiro e campeão. Mas ele, particularmente, poderá dividir com vocês todas as alegrias e as enormes dificuldades que um atleta profissional vive. A preocupação é tão grande com as crianças que, hoje, posso assegurar que, em Xerém, nós temos uma estrutura que, se não for igual, é melhor do que a do profissional, porque temos tudo em Xerém. Temos escola, consultório dentário, clínica de recuperação, tem tudo para dar à criança e ao adolescente o conforto de se sentir em casa, e isso para nós é muito importante.”
A psicóloga do Futebol Profissional e coordenadora do Departamento de Psicologia do Fluminense Football Club, Emily Gonçalves, ressaltou: “Ter a oportunidade de estarmos aqui falando do nosso trabalho é uma grande missão. Tivemos um debate com alguns profissionais da área sobre o cuidado que quem está na formação precisa ter com a fala e com o comportamento, porque, quando alguns meninos estão no Sub-6 ou no Sub-7, eles já entendem que são atletas, e muitos pais os colocam no lugar de jogadores profissionais, fazendo com que eles vivenciem a especialização precoce. Um debate que me chamou a atenção foi quando me perguntaram se eu achava demais um treinador dizer para um atleta pequeno que ele ainda não é ninguém. Eu respondi que considero isso muito grave, porque, se ele chegar ao nível de Sub-15 ou Sub-17 e não conseguir se profissionalizar, ele vai achar que é o quê? Portanto, existe essa preocupação com essa formação. Muitos profissionais também carregam muitas dores e traumas, então, antes de começarmos a falar sobre a formação desse atleta, precisamos pensar e ter muito cuidado com quem nós vamos recrutar para essa missão de formar crianças e adolescentes.”
O coordenador de Metodologia de Xerém /Fluminense Football Club (Formação do Atleta – do Sub-9 até o Sub-20), Marcos Jorand, salientou: “Me sinto muito honrado em estar aqui nesta mesa, tratando de um tema tão fundamental como este, que aborda a pressão psicológica e seus afins. Quando vivi a experiência de ser pai de atleta, me espantei bastante com o comportamento dos pais, o que inclusive foi o tema da minha dissertação de mestrado, intitulada: ‘O comportamento dos pais nos jogos de futsal’. A minha linha de pesquisa foi a violência no esporte, e procurei investigar, de maneira fundamentada na literatura, se as violências observadas na prática realmente aconteciam. Foram identificadas diversas formas de violência, como a psicológica, física e verbal, com pais xingando a arbitragem e brigando com outros pais. A conclusão do estudo foi que o pai quer fazer o melhor para o seu filho; no entanto, ele não sabe a melhor maneira de agir. Ele dá instruções ao filho, grita do canto da quadra e dá ordens diferentes do treinador, acreditando que está fazendo o melhor para o filho. Constatou-se também que são poucos os clubes que procuram realizar um trabalho com os pais para orientá-los sobre a melhor conduta durante essa vivência no esporte.”
A coordenadora de Serviços Sociais de Xerém/Fluminense Football Club, Lucilene Dias, reforçou: “Eu gostaria de começar agradecendo pelo convite de estar aqui hoje e por poder falar sobre o trabalho que desenvolvo em Xerém, com o maior prazer de trabalhar com as minhas crianças e adolescentes. Hoje, temos em torno de 300 crianças e adolescentes em Xerém, que vão do Sub-9 ao Sub-20. Dividimos as categorias e, como já trabalho lá há alguns anos, consegui mostrar à minha gestão a necessidade de termos mais profissionais para darmos ainda mais atenção. Enquanto a comissão técnica está preocupada com a parte técnica, com vencer e trazer títulos, nós, do serviço social, estamos preocupados com o ser humano, com aquela criança e com aquele adolescente, respeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Quando inauguramos Xerém, procurei os órgãos competentes para que pudéssemos estar sempre pautados dentro do ECA e seguir suas orientações. O serviço social é a garantia de direitos; eu entendia assim, e o ECA dizia isso. Consegui mostrar para a minha gestão como deveríamos agir e como a estrutura deveria ser organizada, e eles me apoiaram. Hoje, temos uma assistente social para cada categoria, uma psicóloga para cada categoria, e nosso trabalho é humanizado. Trabalhamos de forma integral e estamos sempre preocupados com o psicológico do atleta e de sua família.”
O atleta Sub-17, campeão brasileiro Sub-17 pelo Fluminense e convocado para a Seleção Brasileira Sub-17, Gabriel de Paula Gorgulho Moraes, destacou: “Queria agradecer também pelo convite e dizer que estou muito feliz por poder representar todos os atletas de Xerém e falar um pouco sobre o que vivemos. Desde criança, sempre gostei de jogar futebol. Com 5 anos, comecei a jogar futsal na minha escola; com 8, fui para uma escolinha de campo; e com 12, participei de um torneio em Goiânia. Lá, havia um captador do Fluminense que me fez o convite para integrar o time. O Fluminense chamou toda a minha família para conhecer as estruturas de Xerém e todos os setores, como o refeitório, a psicologia e os dormitórios. Minha família gostou muito do tratamento. Vim com mais dois amigos e ficávamos juntos em uma casa, onde um responsável cuidava de nós. Minha avó sempre vinha, mas meus pais não conseguiam. No primeiro ano, foi muito difícil, porque sempre fui muito apegado a eles, mas o Fluminense sempre me deu todo o apoio fora de campo. Logo que cheguei, a assistente social foi à nossa casa para verificar se estava tudo certo e como estávamos. Já no Sub-14, assinei um contrato de formação, e foi aí que meus pais e minha irmã vieram morar comigo aqui no Rio de Janeiro. Quando eles vieram, tudo melhorou ainda mais; o apoio foi fundamental. Durante todo o ano, assim como temos o treinamento no campo, temos o encontro semanal com a psicóloga.”
Assista
Para assistir na íntegra acesse: https://www.youtube.com/watch?v=hUbio7CXteA
Fotos: Jenifer Santos
11 de dezembro de 2024
Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)