O Fórum Permanente de Direito Processual Penal e o Fórum Permanente de Direito, Arte e Cultura, ambos da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), promoveram nessa quinta-feira (27), o evento “Produzindo filmes premiados”.
A reunião aconteceu no Auditório Desembargador Roberto Leite Ventura, com transmissão via plataformas Zoom e YouTube, com tradução simultânea para Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Abertura
O vice-presidente do Conselho Consultivo da EMERJ, desembargador Cláudio Luís Braga Dell’Orto, mestre em Ciências Penais pela Universidade Candido Mendes, afirmou em sua fala de abertura: "Esse tema, aparentemente poderia se dizer que não está relacionado diretamente com o Direito, mas está, porque quando se discute a produção de uma obra de arte, estamos discutindo a vida e Direito é vida. A construção de uma sociedade justa, pluralista, igualitária e pacífica passa pelo debate, por exemplo, do ‘Nada de novo no front’. Temos a oportunidade de fazer essa aproximação entre o Direito e a Arte e isso é fundamental".
"Arte e Direito são saberes da mesma raíz, que é nossa raíz da humanidade e vivemos tempos de profunda desumanização. O Direito e a vida não dão conta das nossas angústias e muitas vezes é pela ficção, que começa com a produção e a escolha do que vamos assistir na tela, que somos convidados a nos confrontar com nosso espelho. A ficção tem esse espaço de potência", ressaltou a presidente do Fórum Permanente de Direito, Arte e Cultura, desembargadora Andréa Maciel Pachá, mestre em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O presidente do Fórum Permanente de Direito Processual Penal, desembargador Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, membro da Associação Tempos Modernos, pontuou: "Eu, como todos os brasileiros, fico pensando porque o Brasil nunca ganhou nenhum Nobel, mesmo tendo escritores e pensadores importantíssimos. Chegamos perto com César Lattes. O Chile, a Argentina, têm. Nós não. Também ficava pensando como nunca chegamos ao Oscar. Chegamos perto com a Fernanda Montenegro, em Central do Brasil. É pouco para nós, mas eu vi que o Brasil tinha alguém no Oscar 2023 e descobri o Daniel. Ele não pode continuar desconhecido no Brasil".
"O que o Brasil não tem é essa porta de entrada no exterior, e quem sabe o Daniel abra esse caminho", destacou o presidente do Instituto Cultural Tempos Modernos e cineasta, Silvio Tendler, diretor dos filmes: “O Mundo Mágico dos Trapalhões”, “Jango”, “Glauber, o Filme – Labirinto do Brasil”, “Utopia e Barbárie”, entre muitos outros.
Daniel Marc Dreifuss
O evento foi abrilhantado pela presença de Daniel Marc Dreifuss, produtor dos filmes: “Nada de Novo no Front”, vencedor de quatro estatuetas na 95ª cerimônia do Oscar 2023, e "No".
"Nada de Novo no Front" foi premiado nas categorias de melhor filme internacional, melhor direção de arte, melhor trilha sonora e melhor fotografia do Oscar 2023. O filme é a primeira adaptação em alemão do livro clássico antibélico do escritor alemão Erich Maria Remarque, e narra as experiências do soldado Paul Bäumer na Primeira Guerra Mundial, junto a outros combatentes com quem chega à frente do combate pelo oeste.
Natural da Escócia, Daniel veio morar em Belo Horizonte quando tinha apenas dois anos de idade. Ele cresceu divido entre a capital mineira e o Rio de Janeiro, até a adolescência. Há cerca de 20 anos mora em Los Angeles, onde concluiu um mestrado em produção no Instituto Americano de Cinema (American Film Institute).
"No meu início, comecei a pensar em que tipos de histórias eu poderia contar porque me interessam, são um reflexo de como eu vejo o mundo. Eu gosto de pesquisa, história, processos políticos, momentos de transição e relações indivíduo sociedade, os dois últimos que talvez tendam a ser a linha condutora dos meus filmes", explicou Daniel Marc Dreifuss.
O produtor também comentou sobre a greve dos atores e roteiristas de Hollywood, com pautas como o uso da Inteligência Artificial: "Hoje os atores e roteiristas estão novamente em greve. Ela é necessária e tinha que acontecer, porque estamos diante de questões, que para quem é do Direito acho interessante, como a Inteligência Artificial. Se você pede para o Chat GPT escrever um roteiro do estilo do Woody Allen, a quem pertence o roteiro? Os direitos são de quem? Do Chat GPT, de quem incomendou ou do roteirista que é a inspiração? A Inteligência Artificial consegue recriar o rosto e a voz de um ator e fazer 200 filmes. Estamos em momento de grandes questões sobre o que vai acontecer com a indústria".
Daniel Marc Dreifuss falou sobre as produções de “Blockbusters”, como o novo sucesso “Barbie”, que tem batido inúmeros recordes no cinema mundial.
"Eu acho Blcokbuster ótimo. O Blockbuster não precisa ser ruim. Existem grandes filmes Blockbuster. Eu não sei fazer e não é o que eu assisto, mas o Blockbuster para mim tem a função de criar o hábito de ir ao cinema e se perder na experiência coletiva. E a partir dessa experiência se cria o hábito e surge o interesse por outras coisas e ampliar o leque, criando uma pluralidade de narrativas e funções. Sem o Blockbuster a indústria não existiria, meus filmes não existiriam".
O produtor ainda revelou o desejo de produzir conteúdo no Brasil: "Adoraria realizar um projeto no Brasil. Já questionei publicamente essa insistência brasileira em projetos de público amplo e de comédia apenas. Espero que possamos abrir esse leque. Acredito que a audiência brasileira apoie e assista sim outros projetos. Se assiste séries e filmes feitos no mundo inteiro que não são desses grupos, porque não pode assistir uma série brasileira? Acredito que não se arrisque o suficiente nesse momento, por não crer na audiência brasileira".
Assista
Para assistir na íntegra, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=scNaAZ45yWc
Fotos: Maicon Souza
28 de julho de 2023
Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)