Na última sexta-feira, dia 4, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ) recebeu, no programa “Sextas na EMERJ – A palavra é”, Fernanda Santos Fernandes, delegada da Polícia Civil do Rio de Janeiro e titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DEADM) de Duque de Caxias.
Conduzida pela diretora-geral da EMERJ, desembargadora Cristina Tereza Gaulia, doutora em Direito pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), a entrevista foi transmitida pelo canal oficial da Escola no YouTube e contou com tradução simultânea para Língua Brasileira de Sinais (Libras).
A convidada
Mestra em Direitos Humanos pela Universidade Católica de Petrópolis, a delegada e pesquisadora Fernanda Santos Fernandes atua em casos de violência doméstica, pedofilia e crimes cibernéticos, trabalho que lhe rendeu a Medalha Tiradentes e o Diploma Mulher Cidadã Leolinda de Figueiredo Daltro, ambos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).
A delegada, que é especialista em Segurança Pública pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é autora do livro Princípios da vedação à proteção deficiente na Lei de Violência Doméstica e coautora de outras obras.
Violência contra a mulher
De acordo com a delegada Fernanda Fernandes, é necessário que a conscientização vá além da violência física, que também sejam discutidos outros tipos de violência que antecedem o feminicídio.
“Durante a pandemia, tivemos um crescimento no número de casos de violência cibernética contra as mulheres, um assunto que precisamos discutir. Não podemos tratar apenas da ‘ponta do iceberg’, que é o feminicídio, pois todos sabem o que é uma lesão corporal quando chega na parte física, mas as outras violências são pouco faladas, com poucas campanhas”, disse. E concluiu: “Temos a violência psicológica, que envolve a perseguição, algo muito usado na violência doméstica e familiar. Temos inúmeros casos de perseguições, algo preocupante, pois impede a mulher de viver sua vida, ter redes sociais, sair nas ruas. É uma violência invisível, os parentes e amigos da vítima nem sempre percebem isso”.
A diretora-geral da EMERJ, desembargadora Cristina Tereza Gaulia, complementou: “Nossa sociedade está repleta de homens que não aceitam um ‘não’ de uma mulher. Com conversas como a de hoje, campanhas, documentários, podemos mudar os pensamentos, educar as pessoas. Mais do que escrever e ler, todos precisam compreender o que a mensagem está passando. Por trás de uma piada, uma mensagem, pode estar o assédio. É uma luta não só feminista, mas de todos nós”.
Pedofilia
A convidada do programa explicou o que é a pedofilia virtual e o perigo das redes sociais para crianças e adolescentes.
“A pedofilia virtual está ligada à divulgação e produção de materiais pornográficos envolvendo crianças e adolescentes. Muitas pessoas podem pensar que a pedofilia não vai acontecer com alguém próximo, mas sim, pode acontecer. Hoje em dia, vazamento de fotos íntimas é comum, especialmente entre os próprios adolescentes. As redes sociais, para crianças, é algo perigoso. Mesmo com proibição, muitos pais criam perfis para as crianças, colocando-as em risco, pois [as crianças] os utilizam, posteriormente, sem fiscalização dos adultos”, alertou.
A respeito de amigos virtuais nas redes sociais, a delegada Fernanda Fernandes explicou o comportamento de um pedófilo: “O criminoso estuda a vítima, observa tudo o que é colocado nas redes sociais. Ele cria um perfil como se fosse outra criança ou adolescente, e adiciona os amigos do ciclo da vítima. Com isso, há uma aproximação. Ter muitos amigos virtuais e likes virou algo popular, um sinônimo de sucesso, então as pessoas adicionam outras sem saber do que se trata”.
Ela deixou um conselho: “Na minha opinião, criança não deveria ter rede social; isso é algo para adultos. O adolescente já é vulnerável, uma criança, então, mais ainda. Ela não tem condição de avaliar perigos, até fornece informações pessoais. É uma exposição muito grande. Sempre oriento que a criança não deve ter acesso às redes, mas, caso os pais queiram criar perfis para eles, que pelo menos blindem os aplicativos, para que nenhum estranho seja adicionado, além de filtros que evitem acesso a conteúdos adultos”.
Cyberbullying
O que diferencia o cyberbullying do bullying já conhecido? A delegada Fernanda Fernandes esclareceu.
“Falamos muito sobre bullying, mas se comparado ao cyberbullying ele não é nada. O cibernético não está em um ambiente reduzido, é sem fronteiras. Já encontrei caso de uma adolescente que teve conteúdo íntimo divulgado, ela mudou de escola e quando chegou na outra instituição todo mundo já tinha recebido o conteúdo. As crianças e os adolescentes não conseguem lidar com isso. Para um adulto isso já é algo complicado de contornar. Em casos assim, a grande maioria das vítimas é de mulheres, pois se vaza algo masculino é lidado como algo normal, as pessoas não vão julgar. No caso de uma mulher, a vida acabou. Ela perderá o emprego, os filhos sofrerão cyberbullying e ela ainda será xingada”, explicou.
A desembargadora Cristina Tereza Gaulia pontuou: “Através dessa prática você acaba diminuindo a autoestima da mulher. Você acaba insultando a mulher de tal forma, com um volume tão grande, que a vítima fica desesperada. Mesmo sendo forte, a mulher fica fragilizada”.
O programa
Diferentemente do “Sextas na EMERJ – Diálogos”, que recebe magistrados, o “Sextas na EMERJ – A palavra é” recebe professores, cientistas, artistas e demais personalidades que se destacam na sociedade civil para conversar sobre diferentes temas. O programa é uma iniciativa da direção-geral da Escola, do Departamento de Comunicação Institucional (DECOM) e da Biblioteca TJERJ/EMERJ Desembargador José Carlos Barbosa Moreira.
Transmissão
Para assistir à transmissão completa do encontro, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=whM36gGcXFc
07 de Março de 2022
Departamento de Comunicação Institucional (DECOM)